A madeira vive. A madeira ferve. A madeira inventa. A madeira sustenta. A madeira alimenta. A madeira fala de si...
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
terça-feira, 20 de novembro de 2012
terça-feira, 22 de maio de 2012
Cantiga de João Roiz de Castel Branco, partindo-se. Luís da Silveira, Cancioneiro Geral, Sec. XVI.

Senhora, pois que folgais
com meu mal, não me mateis;
porque quanto alongais
minha vida, tanto mais
vossa vontade fareis.
E olhai, se m'acabardes,
que nunca me mais tereis,
inda que me desejeis,
para m'outra vez matardes.
Mas já sei o que cuidais,
e de mim o conheceis:
confiais
que, se de morto mandais
que torne, que m'achareis.
domingo, 22 de abril de 2012
F. Pessoa, A Mensagem, 1934.
"O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa e, com sensíveis
Movimentos da esperança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte -
Os beijos merecidos da Verdade.
(...)
Triste de quem vive em casa,
Contente com seu lar,
Sem que um sonho, no erguer da asa,
Faça até mais rubra a brasa,
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raíz -
Ter por vida a sepultura.
Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser desconte é ser homem."
Da distância imprecisa e, com sensíveis
Movimentos da esperança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte -
Os beijos merecidos da Verdade.
(...)
Triste de quem vive em casa,
Contente com seu lar,
Sem que um sonho, no erguer da asa,
Faça até mais rubra a brasa,
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raíz -
Ter por vida a sepultura.
Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser desconte é ser homem."
sexta-feira, 13 de abril de 2012
M. Heidegger, O Conceito da Experiência em Hegel, 1942.
"O que nos está restringido a uma vida natural é incapaz de ir por si mesmo para além da sua existência imediata; mas é compelido por um outro a ir para além dele, e este ser-arrancado-para-fora é a sua morte porém, a consciência é para si mesma o seu 'conceito' e, assim, é imediatamente o ir-para-além do limitado e, uma vez que este limitado lhe é próprio, é o ir para além de si mesma; com o singular, é-lhe posto simultaneamente o além como se estivesse simplesmente 'ao lado' do limitado, tal como no intuir espacial. A consciência sofre, portanto, por ela mesma, esta violência de dar cabo da satisfação limitada."
M. Heidegger, A Palavra de Nietzsche "Deus morreu", 1943.
"Talvez um dia, |...| pensemos a era do começo da consumação do niilismo ainda de um outro modo do que até agora. Talvez reconheçamos então que nem as perspectivas políticas, nem as económicas, nem as sociológicas, nem as técnicas e científicas, que nem sequer as perspectivas metafísicas e religiosas bastam para pensar aquilo que acontece nesta era mundial. Aquilo que ela dá a pensar ao pensar não é um qualquer sentido metafísico escondido nas profundezas, mas algo que está próximo: o que está mais próximo, aquilo que, porque é só isso, por isso já constantemente omitimos. Através deste omitir, realizamos constantemente, sem repararmos nisso, aquele matar no ser do ente. |...| Talvez já não nos escape agora de um modo tão precipitado aquilo que é dito no começo do texto comentado, que o homem louco "gritava incessantemente: - Procuro Deus! Procuro Deus!".
Em que medida é este homem louco? Ele está delirante."
Em que medida é este homem louco? Ele está delirante."
M. Heidegger, A Palavra de Nietzsche "Deus morreu", 1943.
"O pensar só comecará quando tivermos experimentado que a razão, venerada desde há séculos, é a mais obstinada opositora do pensar."
domingo, 1 de abril de 2012
F. Nietzsche, Assim falou Zaratustra, 1885.
"Um dia, Zaratrustra, ao voltar do seu lugarejo na montanha onde permaneceu longos anos, encontrou um velho eremita na floresta que se lhe dirigiu nestes termos:
- Que vens tu procurar entre os adormecidos? Infeliz de ti, queres então regressar à terra? Queres então arrastar de novo o peso do teu corpo?
Zaratustra respondeu:
- Amo os homens.
O velho retorquiu:
- O homem é uma criatura demasiado imperfeita para meu gosto. Se lhes queres dar alguma coisa dá-lhes esmolas.
Zaratustra insistiu:
- Eu não dou esmolas, não sou suficientemente pobre para isso."
- Que vens tu procurar entre os adormecidos? Infeliz de ti, queres então regressar à terra? Queres então arrastar de novo o peso do teu corpo?
Zaratustra respondeu:
- Amo os homens.
O velho retorquiu:
- O homem é uma criatura demasiado imperfeita para meu gosto. Se lhes queres dar alguma coisa dá-lhes esmolas.
Zaratustra insistiu:
- Eu não dou esmolas, não sou suficientemente pobre para isso."
terça-feira, 27 de março de 2012
F. Nietzsche, A Origem da Tragédia, 1872.
"É com base neste conhecimento que temos de entender a tragédia grega como sendo o coro dionisíaco que se extravasa, de forma contínua e sempre renovada, num mundo apolíneo de imagens. Aquelas partes corais, com as quais a tragédia se encontra entretecida, são portanto de certa maneira o regaço materno de todo o chamado diálogo, isto é, de todo o mundo cénico, do drama propriamente dito. Em vários e sucessivos extravasamentos, este solo primordial da tragédia irradia aquela visão do drama: visão essa que é em absoluto um fenómeno onírico, logo de natureza épica, representando porém, por outro lado, enquanto objectivação de um estado dionisíaco, não a redenção olímpica na aprência mas, inversamente, a fragmentação do indivíduo e a unificação deste com o Ser primordial. Assim, o drama constitui a simbolização apolínea de formas dionisíacas de conhecimento e repercussão (...)"
Aristóteles, Poética, Século IV a.c..
"O mito é o princípio e como que a alma da tragédia; só depois vêm os carácteres. Algo semelhante se verifica na pintura: se alguém aplicasse confusamente as mais belas cores, a sua obra não nos comprazeria tanto, como se apenas houvesse esboçado uma figura em branco. A tragédia é, por conseguinte, imitação de uma acção e, através dela, principalmente, imitação dos agentes."
sábado, 25 de fevereiro de 2012
domingo, 13 de novembro de 2011
II Arthur Schopenhauer, O Mundo como Vontade e Representação, 1819.
"Bastante feliz aquele que guarda ainda um desejo e uma aspiração: ele poderá continuar essa passagem eterna do desejo à sua realização, e dessa realização a um novo desejo; quando essa passagem é rápida, é a felicidade; e é a dor quando é lenta..."
I Arthur Schopenhauer, O Mundo como Vontade e Representação, 1819.
"Cada um julga-se a priori absolutamente livre, e isso em cada um dos seus actos, isto é, crê que pode a todo o momento mudar o curso da sua vida, por outras palavras, tornar-se um outro. É apenas a posteriori, após experiência, que ele constata, para grande espanto seu, que não é livre, mas está submetido à necessidade; que apesar dos sues projectos e das suas reflexões, ele não modifica em nada o conjunto dos seus actos, e que, duma ponta à outra da sua vida, ele deve revelar um carácter que não aprovou e continuar um papel já começado."
sábado, 12 de novembro de 2011
Antonin Artaud, O Teatro e o seu Duplo, 1938.
"Antes de mais nada, necessitamos de viver, necessitamos de acreditar no que nos faz viver e em algo que nos faz 'viver', acreditar que não estamos condenados a que este indefinido produto do misterioso íntimo de todos nós para sempre nos obceque com uma ansiedade exclusivamente gástrica. O que pretendo frisar é que, se o que mais nos importa é comer, de maior importância será ainda não consumir unicamente em tal, todo o nosso mero potencial de fome."
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
Ulisses, James Joyce, 1922.
"Cerca daquele presente tempo o jovem Stephen encheu todas as taças que estavam vazias de modo tal que pouco teria ficado se os mais prudentes não se tivessem afastado da aproximação dele que tanto diligenciava e que, orando em intenção do sumo pontífice, os exortou a brindar ao vigário de Cristo que, conforme disse, tamém é o vigário de Bray. Ora agora bebamos, disse ele, desta taça e tragai este hidromel que do meu corpo não é certamente parte mas sim encarnação da minha alma. Deixai o pedaço de pão para aqueles que só de pão vivem. Nem tenhais medo de qualquer desejo pois isto mais os consolará que outra coisa vos consternará. (...) As suas palavras foram então como seguem: Sabei, todos os homens, disse ele, que as ruínas do tempo constroem as mansões da eternidade. O que significa isto? O vento do desejo sopra sobre o espinheiro mas depois vem da sarça uma rosa sobre a cruz do tempo. Prestai-me atenção agora. No ventre da mulher a palavra faz-se carne, mas no espírito do que gera, toda a carne que passa se transforma na palavra que não passará."
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Jonathan Swift, As Viagens de Gulliver, 1745.
"Mas, diz-me agora, de boa fé: a vossa 'razão' é a verdadeira razão? Não será antes um talento com que a natureza vos dotou para aperfeiçoardes todos os vossos vícios?" - pergunta o Cavalo a Gulliver.
Louis Aragon, Aureliano, 1944.
"Se se olhou um homem até não se ver nele senão o que o torna diferente dos outros, o particular, é perturbante verificar com tanta maior força quanta geralmente o esquecíamos, que o essencial nele é o que o assemelha aos outros."
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Franz Kafka, Investigações de um Cão, 1922.
"(...) E a verdade é que as coisas mais absurdas passaram a parecer-me, neste mundo absurdo, mais verosímeis do que as coisas lógicas, e além disso particularmente férteis para uma investigação autêntica."
domingo, 30 de outubro de 2011
Arnold Schoenberg, Harmonia, 1949.
"(...)O aluno aprenderá a conhecer a única coisa que é eterna: a mudança; e o que é transitório: a existência. Dar-se-á conta, assim, de que muito do que se tem tido por estética - ou seja, por fundamento necessário do belo -, não está sempre alicerçado na essência das coisas."
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