sexta-feira, 18 de setembro de 2015

...Ainda Herberto...

"Quem se alimenta de fruta, quem se despe entre noites encostadas, pergunto, quem ama até perder o nome?
Cinco Canções Lacunares


"Porque uma frase trabalha na sua culpa como a paisagem trabalha na sua estação."
Etc.

terça-feira, 24 de março de 2015

Morreu Herberto Helder.

(A Máquina Lírica)

TINHA AS MÃOS DE GESSO. AO LADO, OS MAL-


Tinha as mãos de gesso. Ao lado, os mal-
mequeres. Tinha as veias
por cima das cadeiras, lá no alto.
Todo o gesso no alto: os malmequeres.
Ele dormia, dormia.
Aquele homem que as letras atraves-
savam tinha as mãos
de gesso sobre as cadeiras.


Por cima do alto - dormia, dormia.
As letras encostadas aos telhados, e ali começava
o livro da idade com as suas rosáceas.
Os malmequeres dormiam,
dormiam nas cadeiras. E os telhados
vinham devagar encostar-se às mãos,
nas rosáceas.
No alto, no alto - ele tinha as suas veias
de gesso como o sol
branco encostado.


Perguntei-lhe: aonde vais, caçador
com o arco íris?
E ele estava coberto de letras encostado
às rosáceas, e disse:
eu dormia, dormia - com as cadeiras
encostadas ao livro da idade,
e agora sou caçador. As minhas mãos
de gesso lá no alto.


Ele tinha malmequeres, e velava
pelos telhados cheios de letras,
e dizia: as rosáceas encostadas ao meu nome,
as cadeiras encostadas,
as mãos de gesso encostadas ao meu nome.
E eu perguntei-lhe: caçador
de arco-íris encostado, aonde vais
assim com a morte encostada ao teu nome?


Ele tinha o gesso como os malmequeres
nas mãos, e disse:
eu dormia, dormia - e eis que as letras
da idade atravessaram a minha morte.
- Aonde vais, encostado à rosácea do teu nome?
Ele tinha, e disse:
com as minhas mãos de gesso,
encostei-me agora à minha morte, no alto.




















Herberto Helder

domingo, 4 de janeiro de 2015

Soren Kierkegaard, Temor e Tremor, 1843.

"O ético é enquanto tal o universal; na sua qualidade de universal é por sua vez o manifesto. O singular, por ser determinado sensível e psiquicamente de modo imediato, é o oculto. A tarefa ética do singular consiste então em desembaraçar-se do encobrimento e tornar-se manifesto no universal. Sempre que permanecer no oculto, pecará então contra si e fica em tentação, de onde apenas sai ao manifestar-se."
Johannes de silentio