quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Henry Miller, O Sorriso aos Pés da Escada, 1947.

o que nós somos - 'ninguém'! E ao mesmo tempo, 'toda a gente'. Não é a nós que eles aplaudem, mas a eles próprios. Meu velho, tenho de me ir embora, mas antes deixa-me dizer-te uma pequena coisa que aprendi há pouco... Sermos nós próprios, unicamente nós próprios, é algo de extraordinário. Mas como chegar a isso, como alcançá-lo? Ah! eis o truque mais difícil de todos. Difícil, exactamente, porque não envolve esforço. Tentas não ser isto nem aquilo, nem grande nem pequeno, nem hábil nem desajeitado... estás a perceber? Fazes o que te vem à mão. De boa vontade, bien entendu. Porque nada há que não tenha a sua importância. Nada. Em vez de risos e aplausos recebes sorrisos. Pequenos sorrisos de satisfação - e é tudo. Mas é justamente o próprio 'tudo'... mais do que alguém pode pedir. Fazendo o trabalhinho sujo, alivias as pessoas dos dos seus fardos. Isso torna-as felizes, mas a ti torna-te ainda mais feliz, compreendes? É claro que deves fazê-lo sem ostentação, por assim dizer. Nunca deves mostrar-lhes o prazer que te dá. Se te deixas apanhar, se te descobrem o segredo, estás perdido. Chamar-te-ão egoísta, faças por elas o que fizeres. Podes fazer tudo por elas - chegares mesmo a matar-te de trabalho - enquanto não suspeitarem que te estão a enriquecer dando-te uma alegria que nunca poderias dar a ti próprio."



Agustina Bessa-Luís, Jóia de Família, 2001.

 "A esperança é uma forma de sorriso. Nós dispensamos uma gratidão especial a quem nos faz rir, porque isso anuncia uma esperança. Os espectáculos de alegria, eróticos e lúdicos, dão às pessoas uma noção de que se está a seguir uma conduta primitiva, o sexo e o tempo que lhe é favorável, o lugar e a oportunidade. Por isso parecem não obedecer a um comportamento maduro, mas à concordância básica com os seres humanos com quem partilhamos uma ordem comum."