sexta-feira, 30 de junho de 2017

Federico García Lorca, Poeta em Nova Iorque, 1930.

"Quero chorar porque me dá na gana,
como choram os meninos do banco de trás,
porque não sou um homem, nem um poeta, nem uma folha,
mas um pulso ferido que ronda as coisas do outro lado.

Quero chorar ao dizer o meu nome,
rosa, menino e abeto na margem deste lago,
para dizer minha verdade de homem de sangue
matando em mim a troça e a sugestão do vocábulo.

Não, não. Eu não pergunto, eu desejo.
Voz minha libertada que me lambes as mãos.
No labirinto de biombos é meu corpo nú o que recebe
a lua de castigo e o relógio sob a cinza.

Assim falava eu.
Assim falava quando Saturno parou os comboios
e a bruma e o Sonho e a Morte andavam a buscar-me.
Andavam a buscar-me
ali onde mugem as vacas que têm patinhas de pagem
e onde flutua meu corpo entre os equilíbrios contrários."

 

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Diálogo com K. Stockhausen, 1985.

"E a coisa estranha que sai fora da marca de produção é considerada pouco interessante. Encontrar-se em sintonia com a bagagem dos sentimentos já não conta. As propostas da visão interior passam despercebidas. Aponta-se apenas para o que é didacticamente demonstrável, fornecendo a configuração verbal do que se vai fazendo."

domingo, 25 de junho de 2017

Agustina Bessa-Luís, O Concerto dos Flamengos, 1994.

       "A música tem qualquer coisa de assassino; mata em volta os nossos pensamentos, reduz o espírito a uma simples interdição."

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Céline, Viagem ao Fim da Noite, 1932

(...)Ela(...)"Estava decidida a semear-me em plena noite, o mais depressa possível. Era natural. "Á custa de ser empurrado assim pela noite dentro, acabarei por ir dar a qualquer lado," dizia para comigo. Era a consolação. "Coragem, Ferdinand", repetia a mim próprio, para me amparar, "à custa de seres posto no olho da rua em todo o lado, certamente acabarás por descobrir o truque que mete medo a todos, a todos, por mais sacanas que sejam, e que só no fim da noite deve existir. Por isso eles não vão lá, ao fim da noite!"