Poética I
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
- Meu tempo é quando.
Vinicius de Moraes
A madeira vive. A madeira ferve. A madeira inventa. A madeira sustenta. A madeira alimenta. A madeira fala de si...
segunda-feira, 21 de agosto de 2017
sábado, 8 de julho de 2017
Gilberto Mendonça Teles, Falavra, 1972.
"As palavras engendram suas próprias
aventuras no espaço. Sendo neutras,
circulam como sombras devolutas
surpresas nos seus altos ministérios.
De vez em quando saltam novas ordens
desses seres volúveis que se alinham
noutro nível,
por entre a voz do que é
e a franja do mistério que se instaura
e transparece, arbitrário.
Ante os nervos das cordas e dos tímpanos
uma Falavra - folhiflor - desliza
motivada na linguagem,
rio
calcá
rio que atravessa e executa
a solidão humana."
aventuras no espaço. Sendo neutras,
circulam como sombras devolutas
surpresas nos seus altos ministérios.
De vez em quando saltam novas ordens
desses seres volúveis que se alinham
noutro nível,
por entre a voz do que é
e a franja do mistério que se instaura
e transparece, arbitrário.
Ante os nervos das cordas e dos tímpanos
uma Falavra - folhiflor - desliza
motivada na linguagem,
rio
calcá
rio que atravessa e executa
a solidão humana."
sexta-feira, 30 de junho de 2017
Federico García Lorca, Poeta em Nova Iorque, 1930.
"Quero chorar porque me dá na gana,
como choram os meninos do banco de trás,
porque não sou um homem, nem um poeta, nem uma folha,
mas um pulso ferido que ronda as coisas do outro lado.
Quero chorar ao dizer o meu nome,
rosa, menino e abeto na margem deste lago,
para dizer minha verdade de homem de sangue
matando em mim a troça e a sugestão do vocábulo.
Não, não. Eu não pergunto, eu desejo.
Voz minha libertada que me lambes as mãos.
No labirinto de biombos é meu corpo nú o que recebe
a lua de castigo e o relógio sob a cinza.
Assim falava eu.
Assim falava quando Saturno parou os comboios
e a bruma e o Sonho e a Morte andavam a buscar-me.
Andavam a buscar-me
ali onde mugem as vacas que têm patinhas de pagem
e onde flutua meu corpo entre os equilíbrios contrários."
como choram os meninos do banco de trás,
porque não sou um homem, nem um poeta, nem uma folha,
mas um pulso ferido que ronda as coisas do outro lado.
Quero chorar ao dizer o meu nome,
rosa, menino e abeto na margem deste lago,
para dizer minha verdade de homem de sangue
matando em mim a troça e a sugestão do vocábulo.
Não, não. Eu não pergunto, eu desejo.
Voz minha libertada que me lambes as mãos.
No labirinto de biombos é meu corpo nú o que recebe
a lua de castigo e o relógio sob a cinza.
Assim falava eu.
Assim falava quando Saturno parou os comboios
e a bruma e o Sonho e a Morte andavam a buscar-me.
Andavam a buscar-me
ali onde mugem as vacas que têm patinhas de pagem
e onde flutua meu corpo entre os equilíbrios contrários."
quarta-feira, 28 de junho de 2017
Diálogo com K. Stockhausen, 1985.
"E a coisa estranha que sai fora da marca de produção é considerada pouco interessante. Encontrar-se em sintonia com a bagagem dos sentimentos já não conta. As propostas da visão interior passam despercebidas. Aponta-se apenas para o que é didacticamente demonstrável, fornecendo a configuração verbal do que se vai fazendo."
domingo, 25 de junho de 2017
Agustina Bessa-Luís, O Concerto dos Flamengos, 1994.
"A música tem qualquer coisa de assassino; mata em volta os nossos pensamentos, reduz o espírito a uma simples interdição."
quinta-feira, 15 de junho de 2017
Céline, Viagem ao Fim da Noite, 1932
(...)Ela(...)"Estava decidida a semear-me em plena noite, o mais depressa possível. Era natural. "Á custa de ser empurrado assim pela noite dentro, acabarei por ir dar a qualquer lado," dizia para comigo. Era a consolação. "Coragem, Ferdinand", repetia a mim próprio, para me amparar, "à custa de seres posto no olho da rua em todo o lado, certamente acabarás por descobrir o truque que mete medo a todos, a todos, por mais sacanas que sejam, e que só no fim da noite deve existir. Por isso eles não vão lá, ao fim da noite!"
domingo, 28 de maio de 2017
terça-feira, 4 de abril de 2017
Concerto de "pré-lançamento" do CD "PedraPapelTesoura"
Sábado dia 8! Acabadinhos de sair do estúdio... eu e o François Choiselat teremos o prazer de tocar nesta sala cada vez mais incontornável no panorama da música "livre" em Lisboa, Portugal! Pessoalmente, como se trata de um projecto muito acarinhado por mim, a vossa presença será uma motivação especial para voos muito altos! ...nas improvisações / composições em tempo real! E com o nosso CD prestes a sair, os jogos de "PedraPapelTesoura" vão estar ao rubro!
Next Saturday 8! after the recent recordings for CD outcoming... - the performance! Me and François Choiselat will have the pleasure to play our music in O'Culto da Ajuda , a home for "free" music in Lisbon, Portugal! Personally, because it is a very special musical project for me, your presence will be also a special motivation for a great journey with the improvisations / real time compositions of this great duet doublebass - vibes! ...With the outcoming CD, "PedraPapelTesoura" games will be at their best!
http://misomusic.com/index.php?option=com_icagenda&view=list&layout=event&id=340&Itemid=503&lang=pt
segunda-feira, 10 de outubro de 2016
Olá a tod@s, neste próximo sábado dia 15, estarei com François Choiselat e Mirjam a interpretar PedraPapelTesoura em mais uma performance especial, numa casa especial também, as Flores do Cabo, Pé da Serra, Sintra. Desta vez a interacção será entre a música, composta em tempo real, e os videos artísticos da Mirjam, projectados em directo e ao vivo. As expectativas são de muita surpresa e magia! Gostava de contar com a vossa presença e de partilhar convosco esta performance multidisciplinar única em todos os sentidos! Além disso, como celebro o meu aniversário durante a semana, sempre será um excelente momento para fazermos um brinde!Crianças, adultos e graúdos, estou certo que todos vão adorar!Deixo aqui uma janelinha do que poderão ver e ouvir no sábado!Boa semana para tod@s!
segunda-feira, 15 de agosto de 2016
domingo, 26 de junho de 2016
Comunicação - Novidades!!!!!!
Olá Amig@s!
Com
a esperança que tod@s se encontrem bem para que possam usufruir das
novidades musicais que vos envio, aqui estou a dar-vos conta do que
tenho congeminado e dos planos para o futuro mais próximo.https://soundcloud.com/
https://soundcloud.com/
https://soundcloud.com/
https://soundcloud.com/user-
Ainda por estrear em concerto está o meu novo projecto com François Choiselat, PedraPapelTesoura, concebido para funcionar como um trio dinâmico em que eu e o François convidamos outros músicos para virem interpretar a música que vimos fazendo e que se tem revelado muito profícua pois o vibrafone e o contrabaixo casam tão bem que a música é sempre surpreendente. Estamos a trabalhar métodos de improvisação diferentes e a testar os limites (?) da composição em tempo real. Conheçam PedraPapelTesoura:
https://www.facebook.com/
https://soundcloud.com/user-
domingo, 22 de maio de 2016
Agustina Bessa-Luís, O Princípio da Incerteza III, Os Espaços em Branco, 2003
"São as cumplicidades que fazem as culturas, não são as ideias."
"O amor bruto e fero, como diz o poeta e nenhum outro o disse melhor, é uma espécie de vingança sobre a tremenda pressão do mundo; sobre o mistério da vida. Somos acorrentados às razões e elas não são nada perante a alienação que pesa sobre as leis que nos servem."
Agustina Bessa-Luís
"O amor bruto e fero, como diz o poeta e nenhum outro o disse melhor, é uma espécie de vingança sobre a tremenda pressão do mundo; sobre o mistério da vida. Somos acorrentados às razões e elas não são nada perante a alienação que pesa sobre as leis que nos servem."
Agustina Bessa-Luís
quinta-feira, 17 de março de 2016
Agustina Bessa-Luís, o Princípio da Incerteza II, A Alma dos Ricos, 2002
"A ociosidade é um clima necessário ao amor."
"O poder tem que ser execrado para ser poder."
"(...)Mostravam-se sérias e quase pensativas, porque não há maior galanteria do que levar a sério os homens."
quarta-feira, 30 de dezembro de 2015
sexta-feira, 18 de setembro de 2015
...Ainda Herberto...
"Quem se alimenta de fruta, quem se despe entre noites encostadas, pergunto, quem ama até perder o nome?
Cinco Canções Lacunares
"Porque uma frase trabalha na sua culpa como a paisagem trabalha na sua estação."
Etc.
Cinco Canções Lacunares
"Porque uma frase trabalha na sua culpa como a paisagem trabalha na sua estação."
Etc.
sábado, 30 de maio de 2015
terça-feira, 24 de março de 2015
Morreu Herberto Helder.
(A Máquina Lírica)
TINHA AS MÃOS DE GESSO. AO LADO, OS MAL-
Tinha as mãos de gesso. Ao lado, os mal-
mequeres. Tinha as veias
por cima das cadeiras, lá no alto.
Todo o gesso no alto: os malmequeres.
Ele dormia, dormia.
Aquele homem que as letras atraves-
savam tinha as mãos
de gesso sobre as cadeiras.
Por cima do alto - dormia, dormia.
As letras encostadas aos telhados, e ali começava
o livro da idade com as suas rosáceas.
Os malmequeres dormiam,
dormiam nas cadeiras. E os telhados
vinham devagar encostar-se às mãos,
nas rosáceas.
No alto, no alto - ele tinha as suas veias
de gesso como o sol
branco encostado.
Perguntei-lhe: aonde vais, caçador
com o arco íris?
E ele estava coberto de letras encostado
às rosáceas, e disse:
eu dormia, dormia - com as cadeiras
encostadas ao livro da idade,
e agora sou caçador. As minhas mãos
de gesso lá no alto.
Ele tinha malmequeres, e velava
pelos telhados cheios de letras,
e dizia: as rosáceas encostadas ao meu nome,
as cadeiras encostadas,
as mãos de gesso encostadas ao meu nome.
E eu perguntei-lhe: caçador
de arco-íris encostado, aonde vais
assim com a morte encostada ao teu nome?
Ele tinha o gesso como os malmequeres
nas mãos, e disse:
eu dormia, dormia - e eis que as letras
da idade atravessaram a minha morte.
- Aonde vais, encostado à rosácea do teu nome?
Ele tinha, e disse:
com as minhas mãos de gesso,
encostei-me agora à minha morte, no alto.
Herberto Helder
TINHA AS MÃOS DE GESSO. AO LADO, OS MAL-
Tinha as mãos de gesso. Ao lado, os mal-
mequeres. Tinha as veias
por cima das cadeiras, lá no alto.
Todo o gesso no alto: os malmequeres.
Ele dormia, dormia.
Aquele homem que as letras atraves-
savam tinha as mãos
de gesso sobre as cadeiras.
Por cima do alto - dormia, dormia.
As letras encostadas aos telhados, e ali começava
o livro da idade com as suas rosáceas.
Os malmequeres dormiam,
dormiam nas cadeiras. E os telhados
vinham devagar encostar-se às mãos,
nas rosáceas.
No alto, no alto - ele tinha as suas veias
de gesso como o sol
branco encostado.
Perguntei-lhe: aonde vais, caçador
com o arco íris?
E ele estava coberto de letras encostado
às rosáceas, e disse:
eu dormia, dormia - com as cadeiras
encostadas ao livro da idade,
e agora sou caçador. As minhas mãos
de gesso lá no alto.
Ele tinha malmequeres, e velava
pelos telhados cheios de letras,
e dizia: as rosáceas encostadas ao meu nome,
as cadeiras encostadas,
as mãos de gesso encostadas ao meu nome.
E eu perguntei-lhe: caçador
de arco-íris encostado, aonde vais
assim com a morte encostada ao teu nome?
Ele tinha o gesso como os malmequeres
nas mãos, e disse:
eu dormia, dormia - e eis que as letras
da idade atravessaram a minha morte.
- Aonde vais, encostado à rosácea do teu nome?
Ele tinha, e disse:
com as minhas mãos de gesso,
encostei-me agora à minha morte, no alto.
Herberto Helder
terça-feira, 27 de janeiro de 2015
sexta-feira, 23 de janeiro de 2015
quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
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