sexta-feira, 30 de junho de 2017

Federico García Lorca, Poeta em Nova Iorque, 1930.

"Quero chorar porque me dá na gana,
como choram os meninos do banco de trás,
porque não sou um homem, nem um poeta, nem uma folha,
mas um pulso ferido que ronda as coisas do outro lado.

Quero chorar ao dizer o meu nome,
rosa, menino e abeto na margem deste lago,
para dizer minha verdade de homem de sangue
matando em mim a troça e a sugestão do vocábulo.

Não, não. Eu não pergunto, eu desejo.
Voz minha libertada que me lambes as mãos.
No labirinto de biombos é meu corpo nú o que recebe
a lua de castigo e o relógio sob a cinza.

Assim falava eu.
Assim falava quando Saturno parou os comboios
e a bruma e o Sonho e a Morte andavam a buscar-me.
Andavam a buscar-me
ali onde mugem as vacas que têm patinhas de pagem
e onde flutua meu corpo entre os equilíbrios contrários."

 

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