domingo, 23 de setembro de 2018

"sem palavras nem coisas", António Franco Alexandre, 1974.


https://www.youtube.com/watch?v=1BNiOfHy9Fk

Desde Janeiro temos estado a trabalhar António Franco Alexandre, alojados
em sem palavras nem coisas. Cientes da sua construção até ao ínfimo e de
que desejaríamos um espectáculo como o poema, críptico e epifânico.
Dialógico, entre os metais e as madeiras dos nossos instrumentos.
Guiou-nos primeiro a percepção de uma música a intuir no verso, mediante um
processo de cristalização tonal do discurso. Não menos importante, o mergulho
livre no corpo lexical que o autor visita e comuta: fomos pálpebra, flanco,
mansidão, noite espessa, veias abertas, redes mornas, asas misturadas.
Largas doses de especulação musicológica acabaram em abandono perante a
força de muito do que produzíramos espontaneamente, sempre que soubemos
ouvir. Discernir o tema, continuar a ouvi-lo, cada um na sua cidade, em diferido.
Aceitar que o tema nos escolhe. Reiterar-lhe o nome: mansidão dos pulsos ou
acendo o amor.
Houve um tempo grato, quase luxuoso, de repetição e miscigenação, e um
menos grato, divisivo e mental. Por via da composição em tempo real, escuta e
decantação, chegámos a este sem palavras nem coisas e a uns quantos
possíveis lados b. O decisivo do trabalho, fizemo-lo no Laboratório de
Computação Sonora e Musical da FEUP e no O'Culto da Ajuda, sede da Miso Music. Agradecemos
aos nossos interlocutores, Rui Penha e Miguel Azguime; se nos lançamos hoje
em assalto à beleza, entre o plano e o acidente, é também por vossa causa.
João Madeira
Constança Carvalho Homem
Setembro, 2018
YOUTUBE.COM
de João Madeira e Constança Carvalho Homem a partir de António Franco Alexandre O’culto da Ajuda Miso Music Portugal art music centre because…

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